Eu tenho 19 anos, pouco para quem ver, e uma eternidade para
quem vive.
Tive uma infância feliz, não lembro muito dela, mas pelo
menos o que eu lembro são momentos de brincadeiras e vários sorrisos.
Talvez o problema da minha vida tenha começado na adolescência,
não que eu tenha sido uma jovem rebelde (o que eu não fui), mas por conta da
minha fase depressiva.
Eu só não aparentava.
Quando estava no meio das pessoas eu
sempre era aquela que fazia todos sorrirem, a menina das piadas bestas e sorriso
bobo, mas ninguém sabia que quando eu chegava em casa o travesseiro me
aguardava para amparar minhas lagrimas.
Eu escrevia textos sobre suicídio, lia livros sobre pessoas
depressivas, ouvia músicas que me deixavam mal, e pensava qual seria a forma
mais eficaz de morrer.
Passei muito tempo assim, sempre guardando os meus problemas
e dos outros também, era como se eu fosse um depósito de problemas, não sei, mas todo
mundo gostava de me contar sobre as suas perturbações, e então, eu tinha que
lidar com meus transtornos e com os dos outros também.
Chegavam tempos que eu não conseguia suportar, e tinha a
necessidade de pôr tudo para fora, e quando eu sabia que estava preste a explodir
eu me trancava em uma bolha, pois sabia que ninguém poderia me ajudar, ou não
estariam dispostos a isso.
Era só eu.
Só eu e um quarto escuro.
Eu, um quarto escuro e um travesseiro já encharcado com as
minha lagrimas.
Tenho ciência do quanto eu era/sou dramática, mas eu definitivamente
só precisava de alguém para me entender, para me dizer que é normal não sentir
bem o tempo todo, alguém para me abraçar, só me abraçar.
Mas essa pessoa nunca apareceu, e eu fiquei esperando, mas
ela não veio, e mesmo assim eu aguardei a sua chegada, porém, ela não se
manifestou.
Só que essa pessoa estava esperando eu ir até ela.
Eu passei minha vida toda ouvindo falar sobre ela, e achando
que já a conhecia, na verdade eu havia me acostumado em apenas saber que ela
existia.
E esperei.
Até que um dia eu não aguentei mais.
Tudo ao meu redor parecia que ia explodir, e pior, tudo
dentro de mim queria sair, eu sentia que tudo e todos estavam mudando, mas eu
não estava conseguindo acompanhar, não estava dando conta, eu precisava de
ajuda, eu queria ajuda, eu estava em silêncio gritando “ME AJUDEM”.
Ninguém escutou, ninguém percebeu.
E eu chorei, pus para fora tudo, tudinho, mas tudo continuava
do mesmo jeito, as minha lagrimas não estavam fazendo efeito.
E foi aí.
Bem aí.
Nesse exato momento que me lembrei daquela pessoa.
Ela não tinha vindo até a mim, então decidi, como a última
tentativa ir até ela, e para minha surpresa ela estava me esperando.
Não me questionou, não me julgou, apenas me abraçou, deixou-me
chorar em seu colo e sarou minha ferida mais profunda, bem aquela que eu não
deixava ninguém ver, a que estava em minha alma.
Hoje eu me pergunto por que eu demorei tanto para correr
para ela, por que eu me contentei em apenas ouvir falar sobre ela? Se ela
estava a quatro palavras de distância, apenas quatro.
Eu te aceito, Jesus.